terça-feira, 25 de março de 2008

Jogos longos, vida curta

Finalmente terminei Dragon Quest VIII. Foram 92 horas. NOVENTA E DUAS! Pôrra, jogo longo da pôrra! O único jogo que eu levei mais tempo foi Final Fantasy XII, com 99 horas(!). E o que ganhei com isso? Nada. Passei quase quatro dias ininterruptos da minha vida na frente de uma TV e perdendo meu tempo, enquanto deveria estar assistindo algum BBB ou coisa do gênero. Mas não é disso que eu quero falar, afinal. O que importa é: o que eu tirei dessas noventa e duas horas de jogo que tenham rendido algum proveito?

Dragon Quest VIII é um RPG recente, mas que bebe de uma fonte bem velha. Definitivamente, ele respira o mesmo ar dos clássicos RPGs dos tempos do NES/SNES. Batalhas em turnos, níveis de experiência e avanço de level, magias e consumo de MP, navegação em "world maps" que dão acesso às cidades (sendo que os world maps estão numa escala bem mais acreditável do que nos tempos de FFVIII, por exemplo), batalhas aleatórias, baús, monstros que deixam dinheiro e itens quando mortos... As semelhanças são muitas. Seguindo o sentido completamente oposto de FFXII e mantendo a fórmula clássica inalterada, DQVIII encontrou seu próprio espaço e provou que um bom RPG não precisa criar nada incrível, mas tem que focar no que realmente importa: um bom enredo e personagens carismáticos - afinal, o resto já funcionava muito bem.

Mas, logicamente, coisas mudaram. A começar pela belíssima trilha sonora orquestrada que, sozinha, já é capaz de conquistar qualquer um, amante de games ou não. Apesar de se tornar meio repetitiva pela "pouca" variedade de canções, cada uma delas é uma obra prima da qual dificilmente dá pra enjoar, variando da calmaria de uma vila pequena por onde o grupo passa a procura de abrigo à noite, à majestade dos grandes reinos com seus imponentes castelos e à tensão dos combates contra os poderosos inimigos. A imersão se torna natural, tão claramente como o protagonista sem nome representa você mesmo no mundo do jogo.

O outro ponto que torna DQVIII tão especial são seus belos gráficos em cel-shading que lembram claramente um desenho animado. Tal detalhe aliado ao fato de que o design dos personagens se deve à Akira Toriyama (o criador e desenhista da série Dragon Ball) torna este um dos mais belos jogos de RPG já lançados para PS2. Design este, por sinal, que não busca o realismo ou a perfeição, mas a caricatura, o cartunizado. Os monstros, na sua maioria, não foram criados para causar medo, mas para fazer rir. Os personagens são belos e bem detalhados, apesar de os antagonistas terem seus modelos reaproveitados na grande maioria das cidades - uma forma rápida de povoar o mundo do jogo. Bunny girls, soldados templários, videntes, padres... Cada um destes "amontoados de polígonos" são capazes de causar algum nível de empatia com o jogador, e você não precisa se sentir culpado ou desconfortável por isso.

E no que se refere ao enredo, as coisas começam meio despretensiosas no começo, mas basta você chegar na primeira cidade e começar a ouvir as pessoas e suas histórias e perceberá que tudo ali está realmente vivo. Aí, já será tarde demais: o jogo fisgou você. A partir daqui, como todo bom herói, você vai procurar ouvir as pessoas e descobrir do que elas precisam, e fazer a diferença naquele lugar, seja matando um monstro que aterroriza a vila, resgatando um velho rei de sua angústia eterna ou mesmo, como não poderia deixar de ser, salvando o mundo em uma batalha derradeira e épica. São 92 horas de jogo que certamente te deixarão com muitas boas histórias pra contar - algumas engraçadas, algumas felizes e outras tristes também, mas boas.

Complementando o que já é perfeito, adicione um sistema de navegação bem claro, mas que valoriza um pouco mais a exploração do que a objetividade, controles precisos e menus bem construídos, minigames e sidequests não-obrigatórios (mas que provavelmente te farão perder - mais - um tempinho) e um monte de recompensas para aqueles que se dedicarem a descobrir todos os segredos deste enorme mundo de magia. Um dos defeitos menores talvez seja a dublagem meia boca que alguns personagens receberam na versão ocidental do game, mas outras conseguem ser tão boas que compensam o conjunto. Um jogo obrigatório, especialmente para os amantes dos RPGs. Pena que ainda haja gente que acha que videogame é (só) coisa de criança.


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Veja a abertura do jogo no YouTube clicando aqui.

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