segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Meu nome não é Johnny

Até onde isso pode ser possível, o cinema nacional está passando por uma boa fase. Apesar dos lançamentos mais fracos, a frequência com que damos de cara com alguma coisa respeitável está aumentando bastante, como pode ser visto agora com o lançamento de "Meu Nome não é Johnny", baseado no livro com o mesmo nome. O filme, que é baseado em fatos reais, conta a história de João Guilherme Estrella, um jovem de classe média-alta que se perde no mundo das drogas e passa a viver perigosa e irresponsavelmente através da venda de cocaína na cidade do Rio de Janeiro.

Existem alguns pontos que me chamaram a atenção neste filme, e que o diferem de outros tantos filmes brasileiros que usam a violência e as drogas como foco principal: primeiro, o bandido não é tratado com idolatrismo. Claro, a interpretação de Selton Mello cativa, como em todos os trabalhos com que se envolve. Ainda assim, isso não nos impede de reprovar as atitudes de sua personagem, apesar de a maioria delas serem mais por ingenuidade de uma mente jovem do que por maldade ou malícia, por assim dizer. Este pensamento talvez seja até mais prejudicial do que a idéia do idolatrismo, pois neste caso o criminoso passa a ser a vítima, o que não deixa de ser verdade sob um ponto de vista estritamente sócio-econômico (apesar de não ser este o caso). De qualquer forma, o filme lança muitas destas questões, d'onde geralmente muito se discute e pouco ou nada se conclui.

Em segundo lugar, é um filme bem light. Nada de palavrões despejados a torto e a direito, nada de sangue espichado nas paredes ou projéteis zunindo na sua orelha. Pra falar a verdade, temos um filme bastante divertido, por vezes engraçado e (excetuando-se as cenas onde a galera tá na maior lombra) livre para todas as idades. Com um humor sutil e bastante eficiente, Selton Mello e boa parte do elenco conseguem roubar boas risadas do público, com destaque para a velhinha vendedora de ambrosia e o maluco da prisão. Apesar disso, não se trata exatamente de uma comédia, apesar de alguns de seus melhores momentos o serem.

Em terceiro lugar, (atenção - spoiler: arraste o mouse sobre parágrafo para conseguir ler) um final feliz. Tudo acaba bem, todo mundo acaba bem e, se não me falha a memória, ninguém morre no final. Maravilhoso. Só o colega lá que perde a namorada, mas no mais, beleza. Claro, falar assim é ser indelicado, pois a verdade é que eu nunca quero e nem desejo que ninguém passe pelos maus bocados que o protagonista teve de passar. O tom de graça que o filme passa apenas atenua uma situação pela qual muitos acabam mergulhando sem sequer perceber. A situação social do personagem ajuda (muito) para que tudo acabe como acabou. Nem todos têm a mesma sorte.

No fim, temos um ótimo filme, divertido e em alguns momentos emocionante, que nos faz lembrar que a vida é curta e deve ser bem vivida, mas que mostra o quanto a falta de limites pode destruir até mesmo um jovem que tinha todos os recursos e a estrutura necessários para ter sucesso, além do valor inestimável de uma segunda chance para acertar.

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