sexta-feira, 14 de julho de 2006

O Teatro e Eu


E aí galera, tudo beleza?


Pois é. Mais um dia, mais um post. Hoje, sexta-feira, o assunto é teatro. Sim, porquê eu sou ator. O quê? Você não sabia? Então hoje vai ficar sabendo um pouco mais sobre mim e sobre a arte de interpretar. Não sei se sou a pessoa mais capacitada a falar sobre este assunto (e provavelmente não), mas tentarei falar sobre minha experiência pessoal no teatro.

A figura de paletó à direita da foto sou eu, caros amigos. Ao meu lado, meu amigão Eligardênio, que me apresentou às artes cênicas e me ensinou muito, mesmo que não saiba. Cresci muito seguindo o seu modelo. Estamos interpretando "As trapaças de Benedito", uma das comédias mais malucas que eu já vi. Melhor nem tentar contar a história da peça... O fato é que o teatro representa para mim basicamente três coisas: crescimento pessoal, cultural e, principalmente, diversão.

É isso mesmo! Estou nessa pela diversão! O Grupo Teatral Matraka (confiram o link no fim da página) é formado por jovens de várias idades e é sediado em Limoeiro do Norte, CE. Nossa especialidade é a comédia. Ninguém ganha um tostão furado nas apresentações, salvo raras exceções, onde os espetáculos são pagos ou cobramos bilheteria de R$ 1,00, e todo o dinheiro vai para o caixa do grupo, para compra de material. Pode parecer que estamos desvalorizando a arte, mas não encaro desta forma. Estamos apenas tentando atrair as massas, mostrar-lhes a cultura. Tirar da cabeça da sociedade que cultura é coisa de gente rica. Além disso, trata-se de uma cidade do interior, onde o poder aquisitivo ainda não é alto o suficiente para que se possa exigir mais, e a necessidade de conquistar o público também é um fator limitante.

Mas se você acha que teatro é subir num palco e dizer algumas palavras decoradas, errou bem feio. Teatro é espontaneidade, técnica, criatividade. Existem formas corretas de se mover, falar e agir. Fazer teatro é, acima de tudo, uma quebra de barreiras incessante. A cada novo personagem, a cada novo espetáculo, uma nova dificuldade se interpõe entre você e seu objetivo, e ao quebrá-la, uma nova faceta se revela em você, a qual jamais imaginou que estivesse lá. Teatro é um exercício de auto-conhecimento em tempo integral.

Para não enfadá-los com muita teoria, posso contar uma história que aconteceu comigo. Apesar de a cada espetáculo existir sempre um receio antes de se subir ao palco, eu nunca havia experimentado algo como o que ocorreu naquele dia:

O grupo havia sido convidado pela paróquia da comunidade para dramatizar um pequeno trecho do evangelho durante a missa dominical. Tratava-se de algo simples, e não mais que dois ou três atores eram necessários para o intento. Deveriamos representar o trecho bíblico em que Jesus é tentado por três vezes por Lúcifer no deserto. Fiquei com o papel de Jesus. Porém, por se tratar de um evangelho, fiquei com a idéia fixa de que deveria memorizar cada palavra com exatidão, e que nada deveria ser alterado. Com isso, privei-me de minha própria capacidade criativa. Então, no momento certo da missa, entrei em cena, e o coisa-ruim, interpretado por um amigo meu de nome Wagner, se pôs a iniciar o texto. Tudo transcorria bem, até que chegou um momento em que eu não sabia mais qual seria minha próxima palavra no texto(!). Vários pensamentos passaram pela minha mente em fração de segundo: "Quê devo dizer agora? Droga, esqueci minha fala! Mas não posso ficar aqui parado! Vou improvisar." - Algumas palavras saíram de minha boca, mas já era tarde demais: eu estava abalado. Não lembrei o texto, e então aconteceu: gaguejei alguma coisa indistinguivel, na esperança de prosseguir o improviso, e travei. Fui acometido por um súbito nervosismo e me rendi. As mãos ao rosto numa clara expressão de alguém que está completamente perdido e confuso.

Isto tudo aconteceu muito rápido, e tão logo eu fiquei sem reação em cena, meu amigo Carlos, que era o narrador, completou minha frase no microfone. Tentei me recompor, reencarnei o personagem e prossegui. Mas aí veio a "melhor" parte: Em certo momento Jesus é levado até um lugar muito alto, de onde o capeta lhe mostra tudo ao redor e torna a tentá-lo. A montanha era representada por um pequeno aparato de madeira à um canto da cena, no qual eu devia me equilibrar. Nos ensaios tudo correu bem, mas justo na hora do pega-pra-capar (talvez por ainda estar abalado com o erro anterior) eu pisei no meu próprio figurino, uma túnica longa e branca, e só não fui ao chão porquê consegui recuperar o equilíbrio. Porém, isto foi o suficiente para provocar algumas risadas nas pessoas da platéia. Quando olhei para o lado, vi um amigo meu rindo da minha cena. Provavelmente esta imagem me acompanhará até o fim dos meus dias. Contudo, terminei a apresentação sem mais imprevistos (e ainda poderia ser pior?).

Nos fundos da igreja, enquanto tirava o figurino, não parava de dizer "Foi horrível", "Estraguei tudo", "Droga". E ainda vem os amigos pra dizer "Muito bom, cara". Bom o caramba!!! A pior apresentação da minha vida e vem com essa história de bom?

Pra quê serviu tudo isso? Uma das coisas mais difíceis para o ser humano é lidar com as decepções. É necessário levantar e seguir em frente, não importando o quão grande a H-da possa parecer. A apresentação seguinte à essa, na mesma igreja e para o mesmo público, com um texto bem mais complexo e ainda como Jesus, foi uma das melhores que eu já fiz. Merdas acontecem, e temos que estar prontos para levar na cara de vez em quando.

Por sorte, esta foi a única vez de que me recordo em que um erro meu foi tão perceptível. No teatro, o erro é inerente. Nenhuma apresentação consegue ser igual à outra, e por mais que se ensaie, no momento do espetáculo pode surgir um imprevisto. O papel do ator é fazer com que tudo isto faça parte do show, escondendo os defeitos com malícia e esperteza. Exatamente o contrário do que fiz naquela ocasião. Faltou-me espontaneidade para agir no momento em que mais necessitava. Mas tudo bem, isso já é passado. Não se repetirá nunca mais (eu espero).

O teatro enriqueceu minha vida de forma muito positiva. As pessoas que você encontra e as experiências que você vive são muito recompensadoras e ensinam muito sobre a maior de todas as artes: a arte de viver bem. Para isso estamos aqui: para tornar nossa passagem por este mundo algo que valha a pena, tanto para nós como para aqueles que nos vêem da platéia, o principal objetivo do nosso trabalho.

Até a próxima!

Para saber mais sobre o Grupo Matraka, acesse o site (criado pela mala que vos escreve): www.grupomatraka.cjb.net
Vale lembrar que o grupo está passando um período inativo, devido ao desinteresse das pessoas. Paciência...

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